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HISTÓRIA DO MONTANHISMO NO BRASIL

Atualizado: 20 de mar.




HISTÓRIA DO MONTANHISMO NO BRASIL

por Carlos Manes Bandeira - R.J. - 1986


Nasceu o montanhismo como esporte no último quartel de século XVIII, sob a denominação de "Alpinismo", por ter começado na famosa cordilheira dos Alpes, em plena Europa Central. Foi portanto seu marco inicial, a escalada ao Monte Branco no ano de 1786. As Primeiras Escaladas do Século XIX Nossa história registra a conquista de novas fronteiras, através de um ciclo de penetrações e explorações territoriais, iniciado no século XVII, principalmente pelos desbravamentos desenvolvidos pelos bandeirantes, que estenderam nossas fronteiras muito além do que fora determinado pelo Tratado de Tordesilhas. Nestas investidas, montanhas e picos elevados foram subidos por aqueles intrépidos conquistadores, cujos feitos chegam a ser confundidos com a lenda, sem que ficassem registradas tais ascensões. Foi somente no século XIX, que a crônica veio a registrar as primeiras subidas de montanhas, começando então a sua caracterização esportiva, embora ainda insipiente e com motivações várias. Já em 1828 eram registradas algumas subidas a Pedra da Gávea, fascinante montanha de 842 m de altitude, onde um capricho da natureza esculpiu imponente efígie de traços humanos, cuja semelhança com o rosto do imperador D. Pedro II, lhe valeu a denominação de "Cabeça do Imperador". Pseudas inscrições rupestres (caneluras geológicas), também fizeram atrair os doutos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, levando o sábio Mestre Frei Custódio Alves Serrão, membro daquele Instituto, a subi-la a frente de um pequeno grupo, no ano de 1839. Em 1856 ocorre a primeira escalada com "Conquista" de montanha do Brasil, quando o cidadão José Franklin da Silva, morador da antiga vila de Aiuruoca, movido por pioneirismo quase visionário, escala os imponentes paredões sulcados do Pico das Agulhas Negras, no Maciço de Itatiaia, atingindo então a maior altitude que um brasileiro já alcançara em nosso país: 2787 m de altitude. Para lá chegar, o solitário escalador venceu primeiro os pontões principais que antecedem os paredões, depois escalando aquelas muralhas rochosas, sulcadas pela erosão que formou suas caneluras, até alcançar o cume, vencendo uma calha perigosa e muitos abismos. O relato desta escalada foi enviado pelo nosso Montanhista-Pioneiro, à Corte, onde em palavras singelas narrou sobre o caminho que galgara, suas dificuldades e suas belezas, que destaca com entusiasmo e admiração. Em outros pontos do Brasil, alguns sábios como Orville Derby e Louis Agassis, narram também algumas subidas de montanhas, embora estas motivadas por interesses científicos. Um exemplo disso é a escalada da Serra da Piedade por Eugen Warming, famoso cientista dinarmaquês, na área de Diamantina (M.G.). Já em meados do século XIX, as montanhas do Maciço da Tijuca e de Jacarepaguá eram conhecidas e subidas pelos ruralistas do ciclo do café, daí surgindo suas denominações, a maioria das quais permanece até os nossos dias.


Temos a Pedra do Conde, assim denominada em homenagem ao Conde de Bonfim, um de seus proprietários, o Pico da Tijuca, o Pico do Papagaio, o Morro da Cocanha, a Pedra do Archer, a Pedra Feia (atual Pico Andaraí Maior), o Pico do Morumbí (atual Pico Perdido do Andaraí), também chamado erroneamente de Pico do Papagaio, no Grajaú, e ainda, o Morro do Elefante e o Pico Tijuca-Mirim (também conhecido como Pedra Sete). Na Serra Carioca, o Pico Carioca, o Morro Queimado, e o Pico do Corcovado, também já eram subidos, inclusive tendo uma comitiva de Corte, levando o Imperador D. Pedro II até os 704 m de altitude do Corcovado, local onde extasiado pela beleza do panorama, o Imperador sugeriu que se melhorasse o caminho e alí fosse construído um mirante, o que foi feito prontamente. Outra escalada destacada foi a do Pico Pão de Açúcar, com seus 395 m de altura, que no ano de 1871, foi subido pelo atual "Paredão do Costão", por uma senhora inglesa, seu filho e mais umas pessoas não identificadas, que ao chegarem ao cume, ali hastearam a bandeira da Inglaterra. Tal feito no entanto, desencadeou um coletivo protesto por parte da antiga Escola Militar da Praia Vermelha, que tomados de brios e fervor patriótico, encetaram a escalada do Pico pelo mesmo caminho ("Costão"), e após cinco horas de escalada, lograram atingir o cume, levando o "ultrage" de um pavilhão estrangeiro hasteado sobre uma montanha do nosso território, substituindo-o pelas cores do pavilhão nacional. Foi porém no dia 21 de agosto de 1879, que pela primeira vez foi reunida em nosso país, uma equipe de "montanhistas", tendo como finalidade única, realizar uma escalada de montanha sem outras mais motivações à não ser apreciar seus panoramas e desfrutar das belezas e da satisfação de vencer as dificuldades que a Mãe-Natureza alí depositou. A glória deste feito é devida a um grupo de entusiastas paranaenses que formando uma equipe composta por Joaquim Olimpio de Miranda, Bento Manuel Leão, Antonio Silva e Joaquim Messias, resolveram escalar a principal montanha da Serra do Marumbi, pico de mais de 1500 m de altitude. Joaquim Olímpio era o líder inconteste desta ascenção, e a frente de seus companheiros, rompeu através das matas que cercavam o pico, vencendo-as com denodo, galgando e grimpando sobre lajedos e rochas, até finalmente atingir aquelas alturas, de onde puderam ver o seu Paraná até perder de vista, verde e belo. Era a primeira escalada "esportiva" no Brasil, planejada e estudada, dentro de uma sistemática. Em homenagem ao líder, o pico foi denominado "Monte Olimpo". No ano seguinte, confirmando sua vocação para o Montanhismo, José Olímpio de Miranda, liderando uma nova equipe de escaladores, dessa feita, composta por Antonio Pereira da Silva, José Antonio Teixeira, João Ferreira Gomes, Pedro Viriato de Souza, e os Capitães José Ribeiro de Macedo e Antonio Ribeiro de Macedo, que no dia 26 de agosto de 1880 atingiram o alto do Monte Olimpo novamente. Se não fundaram um primeiro clube de montanhsimo no Brasil, aqueles paranaenses valentes se constituiram sem dúvida, no primeiro grupo de escaladores de montanhas com embrionária qualificação esportiva. Ainda no final do século XIX, temos novamente do elevado Pico das Agulhas Negras, até então considerado como a montanha mais alta do Brasil.


Desta feita são os escaladores, Horácio de Carvalho e José Borba, que vencendo todas as dificuldades, percorrem o caminho pioneiro de José Franklin da Silva, desta vez, já aplicando artifícios rudimentares de escalada. A ascensão fora debaixo de frio intenso, enfrentanto os escaladores um princípio de mal tempo, com fortes rajadas de vento, mas que não impediu de ambos chegarem ao almejado cume das Agulhas Negras. Já no Final do século XIX o Pico do Dedo de Deus já era conhecido como verdadeiro desafio aos escaladores. Alpinistas suíços chegaram a tentar sua subida, sem sucesso. Logo após, um escalador alemão tentou uma ascensão, fracassando porém no intento.


Texto extraído da apostila de iniciação ao montanhismo do CPM

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