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Anhangava - Morada do espírito mau

Iviturui Montanhismo - Ano 3 - publicado em 29 de abril de 2004

Texto e fotos por Marcelo Leandro Brotto

Morada do Espírito Mau


Morada do Espírito Mau

Para os índios tupis Anhangava quer dizer "morada do espírito mau". Para nós escaladores e amantes da natureza o Anhangava é a bandeira da incessante luta pela preservação da Serra do Mar. É primeira montanha que bateu de frente com os problemas trazidos pela expansão desordenada da região metropolitana de Curitiba. Suas encostas sucumbem à fome das mineradoras na extração do granito. Seus escaladores vivem sob a tensão dos assaltos a mão armada. Suas matas ainda ardem em queimadas e lixo ainda se acumula ao longo de suas trilhas. Haverá uma salvação? De certo modo sim. E o primeiro passo e mais importante já foi dado. Com a criação do Parque Estadual da Serra da Baitaca (Decreto Estadual nº 5.765 de 5 de junho de 2.002) a área de 3.053,21 hectares da serra homônima, abrangendo os municípios de Quatro Barras e Piraquara, tem agora garantia permanente de preservação. Mas ainda há muito a ser feito. O parque até o momento só existe no papel e pouco foi feito pelas autoridades competentes. Fora o policiamento que realiza rondas aos finais de semana a área ainda carece de infraestrutura e um bom plano de manejo. O Parque A Serra da Baitaca é formada por um conjunto de montanhas que segue o sentido norte-sul a partir de Quatro Barras na sua maior elevação, o Anhangava com 1.430 metros, seguido pelo Corvo, Pão de Loth e por elevações menores até a borda dos Mananciais da Serra já no município de Piraquara. A Serra marca a faixa de transição entre a Floresta Ombrófila Densa (Floresta Atlântica) e a Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucárias). Elas abrigam uma importante reserva de flora e fauna como, por exemplo, o Pinheiro-do-Paraná (Araucaria angustifolia) e o andorinhão-de-coleira-falha (Streptoprocne biscutata) facilmente avistado do alto do Anhangava. Além da floresta montana que vai até 1.200 metros de altitude, encontramos acima desta cota a floresta altomontana caracterizada por árvores de pequeno porte e os refúgios vegetacionais sobre os afloramentos rochosos caracterizado por bromélias, orquídeas, cactus, liquens e musgos. Em suas encostas nascem as águas de importantes bacias hidrográficas como a do Capivari, Ipiranga e Iguaçu, essenciais para o abastecimento da capital e região metropolitana. Atravessando o parque de leste para oeste o Caminho colonial do Itupava, bem como a ferrovia Ctba-Pguá, guardam sobre seus sinuosos traçados a história da colonização do primeiro planalto paranaense. Antes mesmo disso os índios da região já utilizavam o Itupava como via de acesso ao litoral. Hoje, sobre seu calçamento original, caminham mochileiros que descem a Serra rumo a cachoeira Véu de Noiva, ao Marumbi ou ao rio Nundiaquara em Porto de Cima. Já o Anhangava guarda como principal característica seus paredões repletos de vias de escalada de todos os graus de dificuldade, denotando sua inegável vocação para campo escola de escalada.


Referências bibliográficas: ZIPPIN NETO, Dálio; FRANZEN, Ronaldo. Morro do Anhangava (Guia de Escaladas em Rocha) - Curitiba: Marumby Editora, 2003


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